O desporto e as suas modalidades estão a tornar-se cada vez mais importantes numa sociedade egocêntrica, voltada para o sedentarismo e para a tecnologia. O incentivo para a prática desportiva é por isso cada vez maior desde as fases mais precoces, o que faz com que o atleta cresça e evolua construindo uma relação mais aproximada com o seu treinador. Com esta evolução da relação treinador-atleta, cresceu também a curiosidade em entender esta interacção e quais os problemas que dela advêm.
Como tal, no domínio desportivo, a relação interpessoal mais importante, é provavelmente, estabelecida entre o treinador e o atleta, em que os processos de interacção entre ambos têm sido considerados como factores determinantes do desempenho desportivo. Contudo, a relação treinador-atleta pode ser perturbada por inúmeros factores, tal como as incompatibilidades entre as suas personalidades. Portanto, o treinador é mais do que aquele que assegura somente a compatibilidade entre as regras e as condutas de empenho e, não se limita a fornecer as soluções técnicas permitindo resolver os problemas da motricidade do desempenho. Ele deve ser guiado pelo seu sentido humanitário e pela ética, mesmo que seja tentado a referir os modelos tecnicistas ou os seus conhecimentos sistemáticos.
Como a maioria das modalidades desportivas requerem grandes quantidades de horas de treino para permitirem uma evolução do atleta, a motivação torna-se uma variável imprescindível. Esta, utilizada de forma adequada, faz com que o atleta mantenha a aderência, independentemente dos treinos serem duros, difíceis, aborrecidos ou repetitivos. Uma motivação adequada, aumenta a confiança do atleta, diminui a ansiedade e o stress e, facilita a concentração na tarefa.
As decisões do treinador (muitas vezes aleatórias e em função das próprias interpretações e atitudes) interferem activamente na vida pessoal e desportiva dos seus atletas, advindo consequências quer positivas quer negativas para eles. Essas interferências podem ser através de opções de gestão das situações de treino e competição, como também através das suas atitudes no processo desportivo, apresentando grande impacto na forma de comunicação com o atleta.
Sendo o treinador, a personagem com o papel mais importante e de maior destaque na díade, torna-se essencial saber quais os seus comportamentos, que melhor ou pior, predizem o rendimento dos seus atletas e têm um maior impacto emocional nos mesmos, de forma a lhes permitir atingir os objectivos por eles (díade) traçados.
Os resultados do estudo efectuados a uma amostra constituída por 9 equipas da Liga de Honra, do Campeonato Português de Futebol, na época de 2005/2006, permitiram concluir que, enquanto a motivação intrínseca dos atletas se conecta com a percepção de comportamentos ansiogénicos do treinador, a ansiedade-traço não se relaciona com as emoções negativas que os comportamentos do treinador possam provocar; a ansiedade-traço do treinador como factor de tensão emocional permitiu concluir que independentemente do traço de ansiedade do treinador ser elevado ou não, os atletas são “imunes” à sua interferência; a ansiedade-estado dos atletas relaciona-se com a percepção dos comportamentos ansiogénicos do treinador, permitindo deduzir que os atletas quanto mais auto-confiantes se sentem mais sensíveis se tornam a esses comportamentos; e, a ansiedade-estado do treinador não se associa com a ansiedade-estado dos seus atletas, assim como não se relaciona com a percepção que os seus atletas têm dos comportamentos que possam provocar ansiogenia.
De um modo geral:
1- Os atletas são pouco perturbados pelos comportamentos dos seus treinadores; não identificam comportamentos de ansiogenia do seu treinador quando são mais motivados intrinsecamente;
2- São os atletas mais auto-confiantes que percepcionam mais comportamentos ansiogénicos ao nível de:
a) Comunicação (são os comportamentos do treinador relacionados com o estabelecimento da relação com o atleta, bem como com o acto ou capacidade de transmitir informação ao atleta e também de recolher informação deste, mostrando atitudes de oposição ou opiniões que os atletas não apreciam);
b) Antagonismo (é relativamente à relação interpessoal do treinador com o atleta, assim como com o acto de mudar a informação, são os comportamentos do treinador que manifestam atitudes ou opiniões de oposição e/ou desvalorização pessoal dos atletas de modo implícito ou explícito);
c) Decisão (está associada aos factores da tarefa, são os comportamentos do treinador relacionados com a resolução de problemas ou respostas concretas a situações que se lhe deparem, dando ordens, concretizando iniciativas ou assumindo responsabilidades) no seu treinador.
3- A percepção que os atletas têm dos comportamentos ansiogénicos dos seus treinadores relaciona-se com as suas características individuais (motivação e ansiedade-estado) e não com as características do treinador (ansiedade-traço e estado).
* Orlando Costa (Pós-Graduado em Psicologia Desportiva)
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